Hoje é o dia mundial da conscientização do autismo. São muitas as publicações nas redes sociais trazendo informações, relatos e experiências. Tudo isso me traz uma grande satisfação. Estou envolvida nos estudos sobre autismo desde minha adolescência quando um filme me trouxe o interesse em estudar as características trazidas pelo personagem principal, eu tinha, na época, por volta de 15/16 anos e desde então me apaixonei pelo tema.
Comecei a trabalhar com autismo aos 19 anos numa escola especial em São Paulo ainda no 2º ano da faculdade de Psicologia e como já havia finalizado o magistério, o desafio era “alfabetizar” 4 crianças que tinham o diagnóstico. Na época, foram muitas tardes na biblioteca da USP, que era a única que possuía diversas publicações arquivadas e uma literatura mais vasta sobre o assunto, novidade no Brasil, na época. Confesso que matei algumas aulas da faculdade para passar essas horas de estudo. Quando finalizei o curso de psicologia, levei comigo para o consultório, uma criança de 5 anos, na época, que eu havia atendido sob supervisão da prof. Rahel Bóraks (uma referência na abordagem Kleiniana e no trabalho com autismo, nos anos 80/90 em São Paulo), essa profissional maravilhosa que continuou me inspirando, apoiando e supervisionando em diversos outros atendimentos em autismo, por mais 5 anos até que esta criança estivesse em escolarização, lendo, escrevendo e seguindo na escola regular, um grande feito, pois na época nem existia o termo inclusão. Na minha especialização em Neuropsicologia, o estudo de caso relatado em um trabalho para obtenção da nota de um dos módulos, com a saudosa dra.
Lúcia Helena Coutinho dos Santos, me possibilitou um convite para que eu conhecesse o trabalho do ambulatório que ela coordenava no Cenep (Centro de neuropediatria do HC em Curitiba), o qual trabalhei como voluntária por 6 anos, aprendendo sobre neurologia infantil com a maravilhosa equipe que compunha diversos ambulatórios na instituição. Embora trabalhando com paralisia cerebral, nestes anos, nunca abandonei a causa, participando de congressos, encontros, reuniões, pois a neuropsicologia me trouxe a possibilidade de ampliar muitos outros estudos sobre autismo e acometimentos do sistema nervoso central e periférico. Nunca deixei de trabalhar, estudar, pesquisar o autismo em todas as faixas etárias e acredito que assim continuarei pela vida profissional toda, bem como na neuropsicologia e neurociência, que hoje compõem meu foco entre TEA e o funcionamento cerebral. Percorri todo o caminho das descobertas, da visibilidade que tem hoje o autismo, agora sob a denominação de Transtorno de espectro autista (TEA) e é realmente muito gratificante ver que hoje as pessoas conhecem o que é o autismo, os diferentes olhares e suas diferentes faces em todos os ciclos de vida.
Que o dia 02 de abril traga à todos nós um momento de reflexão sobre o tema e sobre todos aqueles que em suas diferentes manifestações sejam respeitados, como pessoas, que a qualidade de vida seja o mote para o trabalho com eles (elas) desenvolvido, que as famílias busquem ajuda profissional competente para os acompanhamentos necessários na busca pela felicidade das pessoas que trazem consigo o TEA para que tenham vida, independência, autonomia e principalmente respeito.
Compartilho algumas fotos publicadas no curso que ministro todos os anos sobre TEA, bem como os posts de colegas que também estudam, trabalham e contribuem lindamente com a causa.